domingo, 15 de agosto de 2010

A primeira experiência cultural do Casal Sensacional


Como já contei, sou apaixonada por cultura e arte. E também adoro filosofia. Logo, quando soube que havia um monólogo em cartaz baseado na obra de Nietzsche, fiquei felicíssima! Adoro teatro, adoro monólogos e gosto muito do que está fora do circuito comercial. Não que não existam coisas boas no circuito comercial, mas geralmente temos coisas muito interessante no circuito independente. Assim, convidei o maridão para essa experiência, totalmente nova para ele, e ele aceitou.
O monólogo estava em temporada na Usina do Gasômetro, que é uma antiga usina termoelétrica da cidade, inaugurada em 1928 para abrigar a Cia. Brasileira de Força Elétrica e que foi desativada em 1970. A  Usina, com sua chaminé de 117 metros, construída em 1937, é um dos cartões postais da capital gaúcha, e, desde 1991, se tornou um dos centros culturais mais importantes da cidade, além de ser um local privilegiado para se apreciar o belíssimo pôr-do-sol às margens do Guaíba.
Devidamente apresentado o local, falemos do espetáculo. O monólogo, chamado "Travessia entre Nós," é baseado em fragmentos da obra "Assim falava Zaratustra", de Nietzsche, com direção de Celso Veluza e talentosa interpretação de Gabriel de Negreiros, mostrando as inúmeras faces do homem dentro e fora do seu universo, buscando uma reflexão sobre os valores mundanos na relação homem-sociedade.
E lá foram Dannes e Celo. A estrutura das salas da Usina do Gasômetro em nada lembram um teatro convencional; então, para o Celo, a novidade já começava aí. Começa o espetáculo. Escuridão total. Não se enxerga aboslutamente nada. Escuridão e silêncio por alguns minutos. Logo, ainda na escuridão, surgem ruídos perturbadores protagonizados pelo ator, tanto com a voz quanto com o corpo, que interage com o palco. Os espectadores, então, já iniciaram uma viagem psicológica e estão prestes a serem invadidos pelas inquietações do universo de Nietzsche, profundo e complexo, tão logo a lâmpada, único elemento cênico, se acenda. À luz, vemos um Zaratustra contemporâneo, um clown de nariz negro, nos inserindo no denso conteúdo do texto de Nietzsche com uma emblemática performance corporal. A trilha sonora também é merecedora de destaque. Escolhemos nossos lugares ao som de Richard Wagner e o espetáculo se encerrou ao som heavy metal de Rammstein, ambos alemães como Nietzsche. Como uma das falas do monólogo diz, esse é um teatro para todos e para ninguém. É também um teatro denso, cru, que não permite distrações. É, portanto, um teatro para os fortes.
Dannes adorou, do início ao fim. Celo, que passou por uma experiência realmente inovadora, tanto por conhecer a cena cultural local independente, quanto por ter maior contato com a obra do grande filósofo alemão, quando questionado, declarou ter gostado muito também. Mas deixemos que ele conte com suas próprias palavras, né? ;)


P.S.: Friedrich Nietzsche, filósofo alemão do século XIX (1844-1900), entendia que o mundo era desordem e irracionalidade, era extremamente crítico acerca das religiões, ateu por instinto, queria desmascarar todos os preconceitos e ilusões do gênero humano, ousava olhar sem temor o que se escondia por trás dos valores universalmente aceitos, considerava o homem como individualidade irredutível, julgava a vida uma explosão de forças desordenadas e violentas. Por tudo isso, é considerado, muitas vezes, negativista, pessimista, egocêntrico e egoísta. Realmente, tinha uma personalidade complexa e inquieta. E, sim, era machista, mas tal fato não pode ser analisado isoladamente. É preciso compreender sua linha de raciocínio e contextualizá-la à época em que viveu. Nietzsche é autor de uma imensidão de pensamentos belíssimos, crus e verdadeiros. Para mim, muitas vezes, é como uma navalha na carne. E, para quem se interessou pelo monólogo, basta clicar aqui.





4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Bom, o que dizer dessa primeira aventura? Foi algo no estilo "desbravando Nietzsche sem cuspe e com areia". Confesso que nunca o li, entre outras tantas falhas de formação cultural que ainda tenho que sanar ao longo da vida, e diria que um primeiro contato assim, sem preliminares (ui!), pode produzir conclusões muito variadas, boa parte delas provavelmente não relacionadas com a intenção original do texto.
    Por outro lado, confesso que gostei do espetáculo. Minimalista ao extremo, é tão despojado que faria corar um espartano autêntico. A interpretação do Gabriel foi muito boa, de fato, e a música, sempre que dava seus ares, era envolvente e imponente. Fazia uma ambientação e tanto. Se a intenção era nos sentirmos diminuídos (e fascinados), ponto pra eles.
    Como a Dani disse, o palco é bastante incomum. É voltado realmente para espetáculos alternativos. Não mais do que 25 cadeiras, creio eu, daquelas de plástico duro com pernas fininhas de metal, que fazem a alegria das hemorróidas. Mas como a apresentação não era longa, não chegaram a incomodar. Na verdade, creio que tinham seu papel no sentido de gerar desconforto, no caso, físico. O psicológico estava diante dos nossos olhos. Nietzsche não é mesmo para amadores. Preciso conhecer melhor a sua obra e, para a minha enorme sorte, tenho uma excelente professora ao meu lado. Hmmmmmmm.
    Pra encerrar, eu diria que foi um belo começo no mundo da "filosofia profissional" já que eu, como quase todo mundo, sou um filósofo diletante (ou seria, "barato"?), sem formação nenhuma mas com opiniões a respeito de tudo. Outros espetáculos virão; Porto Alegre adora receber gente do circuito não-comercial e isso é bom. Como bem disse o Nélson Rodrigues, toda unanimidade é burra e de burrice o mundo já está mais do que cheio. A unanimidade significa falta de pensamento. Só não vê alternativas quem não pensou a respeito. Mas chega! Já está baixando aqui o "diletante" de novo.

    (*) republicado por conta dos erros de português e falhas de internet desse meu 3G que só me dá orgulhos.

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  3. Adorei, amor! Esquecemos de comentar que essa aventura ocorreu com menos de um mês de relação. O tempo é mesmo relativo para nós, né? Tínhamos menos de um mês juntos, mas nos sentíamos como se estivéssemos juntos por toda a vida. Aliás, só isso já dá assunto para outro post. :)

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  4. Pobre internet... Nunca mais será a mesma depois de nós! Hahahaha.

    Bacci!

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