quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Um vácuo chamado Brasília

A cidade de Brasília é estranha. Primeiro porque nunca vi uma cidade ser chamada de planejada e, ao mesmo tempo, um labirinto indecifrável. Esse negócio de Eixo Monumental, Plano Piloto e o escambau é uma desgraça. Você é obrigado a dar voltas enormes para ir a um lugar qualquer, os tais blocos são um serpenteado interminável de curvas e mais curvas e só mesmo alguém com labirintite poderia achar essas vielas racionais. Acho sinceramente que Niemeyer e companhia são supervalorizados. Nem a famosa arquitetura local eu acho bonita.

Aqui você precisa de carro para qualquer coisa e isso significa que o trânsito é ruim. E pior ainda é tentar estacionar. Ainda bem que estou perto o suficiente para poder ir e voltar ao trabalho na base do "expresso canelinha", o que, lamento dizer, não está surtindo os efeitos esperados na diminuição da minha circunferência apesar de eu caminhar pelo menos 5 km todos os dias. Shit!

Brasília também é estranha por outro aspecto: tem muita gente de fora. Me arrisco a dizer que os moradores mesmo são minoria. Ninguém quer morar aqui. O custo habitacional é absurdamente alto e os de manutenção, gasolina inclusa, idem. Você paga os olhos da cara para morar longe e mal. Isso significa que os órgãos federais têm pouca gente do quadro e a maioria das pessoas está ali para atender a uma determinada demanda, deslocada temporariamente das suas sedes e a falta de pessoal é crônica. Nos dois setores em que estive nos últimos meses, o pessoal efetivo é mínimo. A maioria veio de todas as partes do Brasil e está aqui para resolver determinados problemas. Isso significa que há enormes gastos com diárias e este é um quadro que ninguém consegue resolver.

Do ponto de vista institucional, isso é péssimo. Há muita descontinuidade de trabalho, interrupções forçadas e nem sempre você tem mão-de-obra de qualidade. A falta de gente é tamanha que mesmo que o sujeito não seja lá essas coisas, eles convocam mesmo assim. Oferecer incentivos para tentar conseguir pessoas interessadas em pedir transferência não resolveria o problema porque geraria muito mais distorções do que soluções. Lembram-se dos apartamentos funcionais? Pois é. Seriam uma solução se fossem controlados com rigor e critério mas na prática... Bom, vamos deixar pra lá.

Infelizmente, a cidade tem muito pouco a oferecer para o país. Não é exatamente um lugar inspirador da moral e ética, especialmente quando consideramos que ela gira em torno da política nacional que, convenhamos, é um tema desesperador. Um lugar que tem no favorecimento a maior moeda de troca não poderia estar ditando os rumos da nação mas é exatamente o que temos aqui, na minha humilde opinião. Não que eu esteja vendo algo de errado pessoalmente. Pelo contrário, as pessoas com quem tenho trabalhado estão aqui por motivos sérios e importantes e gostei de todos com quem tive contato até o momento mas isso é um microuniverso no todo e sei que quanto maior for o ângulo de visão, mais distorções passarei a ver.

Enfim, pelo menos estou satisfeito com o trabalho que estamos desenvolvendo e que tem relação com uma série de normas internas que falam de segurança da informação, de procedimentos e manuais que normatizarão vários aspectos do instituto, embora sejam apenas os primeiros passos de um movimento muito maior e que demandará tempo e esforço para chegar a termo. Mas é estimulante de qualquer forma e fico grato por isso.

Mas a verdade é que não vejo a hora de voltar para casa, para minha mulher amada. Afinal, quando completarmos 12 meses de vida conjunta eu terei passado dois deles fora de casa. Tenho que voltar logo antes que ela resolva colocar outro no meu lugar! Aliás, como diz uma colega aqui, preciso conferir se o chinelo ao lado da cama ainda é o meu...


Adendo: só para constar, tive um dia ligeiramente diferente hoje. O nosso amado, idolatrado, salve!, salve!, Presidente da República foi visitar as novas dependências do edifício-sede do órgão em que trabalho, inaugurado há poucos meses, e por essas coisas da vida é justamente onde eu estou há algumas semanas. Desde cedo tínhamos um corre-corre instalado no prédio. Cordões de isolamento, seguranças por toda parte (ainda bem que não tive que fazer nada sólido no banheiro porque provavelmente ia achar um dos MIBs dentro da "casinha"). No fim das contas, não deu pra ver nada, embora ele tenha ido exatamente para o andar onde eu estava mas era um amontoado de gente baba-ovo e seguranças que tornaria impossível ver qualquer coisa. Então, que fique para os registros que hoje eu estive a uns 20 metros do Lula e nenhum dos dois percebeu.

3 comentários:

  1. Adorei o post! Adoro teu estilo de escrever!
    E só para constar: o chinelo ao lado da cama sempre será o seu! Mas volta logo, viu? ;)

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  2. Esqueci de dizer que eu também não gosto de Bsb. Acho feia, cinza e esquisita...

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  3. Marcelo, quem é o careca da Foto????

    Wagner

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